RESUMÃO DE INTRODUÇÃO A FILOSOFIA: fonte
http://pt.scribd.com/doc/40182827/Questoes-Dissertativas-de-Introducao-a-Filosofia-1
Questões Dissertativas de Introdução à Filosofia
Aula 01
01) Que diferenciação podemos fazer do uso popular do termo“filosofia” da atividade filosófica?
Resposta: Deve-se diferenciar a filosofia, enquanto atividade intelectual do pensamento, do uso corriqueiro que se faz do termo como visão de mundo, isto é, “filosofia de vida”. Ter uma “filosofia de vida” de maneira alguma se equipara a fazer filosofia. Este tipo de percepção está ligada à tendência atual de perceber a filosofia como uma espécie de auto-ajuda sofisticada, que é uma percepção equivocada sobre o que seja a filosofia. (p. 02)
02) Por que um problema filosófico não é empírico?
Resposta: Os problemas da filosofia são problemas perenes e não há possibilidade de confirmação ou refutação observacional das possíveis respostas. Quando um problema se mostra empírico, ele se mostra como um problema científico, não filosófico. (p. 02)
03) Onde reside a importância do estudo da história da filosofia para sua própria compreensão?
Resposta: O estudo da história da filosofia possibilita a percepção da grande variedade de abordagens e perspectivas desenvolvidas pelos inúmeros pensadores através dos tempos, assim como as várias definições por eles dadas à filosofia. (p. 02)
04) O que há de comum às diversas abordagens históricas dos problemas filosóficos?
Resposta: O diálogo constante, mesmo que com enorme distância temporal; a argumentação, desenvolvida por meio das regras lógicas do pensamento; a coerência, que foge da contradição com os fatos e entre as idéias; o questionamento constante sobre tudo; e os problemas, que permanecem os mesmos com respostas diferentes e contraditórias ao longo do tempo. (p. 02)
Aula 02
01) O que significa dizermos que os primeiros filósofos tinham uma“preocupação cosmológica”?
Resposta: A filosofia ocidental nasceu na Grécia, entre os séculos VII e VI a.C., com uma preocupação eminentemente cosmológica. Os primeiros pensadores gregos estavam tomados pela preocupação em responder à questão da ordem do universo (cosmos). (p. 01)
02) Quais os mal-entendidos acerca da passagem do mito ao logos?
Resposta: Dentre os mal-entendidos comuns, pode-se destacar a suposição de que a passagem do “mito” ao “logos” se deu de maneira definitiva, com o abandono total de referências sobrenaturais, assim como achar que a explicação filosófica é dotada de razão, ao passo que o mito seria destituído dela. (p. 01)
03) Como a obra dos poetas gregos Homero e Hesíodo mostram as características mutantes da sociedade grega durante o período de passagem do mito ao logos?
Resposta: Na obra de Homero se evidencia a hierarquia dos deuses gregos e percebe-se que, por mais que a vontade divina submeta o curso da vida humana, esse processo de interferência não é misterioso. Dada a grande preocupação com o arbítrio dos deuses, os gregos antigos procuravam utilizar todos os processos naturais a seu dispor para obter algum controle sobre a ação divina. Na
Teogonia de Hesíodo, tem-se a apresentação da árvore genealógica da mitologia grega, desde os primeiros deuses até o apogeu e comando final de Zeus. Expressas mitologicamente em termos de procriação e consangüinidade, as idéias lógicas de
implicação,
dedução e
associação permeiam todo o texto do poeta. Assim, até mesmo os deuses passam a fazer parte da mesma “natureza”, na qual, os homens se encontram e começam a ser percebidos como submetidos aos mesmos princípios.
Tanto na
Ilíada quanto na
Odisséia, Homero apresenta uma concepção de virtude (
areté) como um traço distintivo da origem por nascimento do indivíduo; o
aristoi é o nobre, e ele o é, porque possui
areté (virtude). Temos a expressão de uma sociedade aristocrata, onde a virtude é de alguns em função do nascimento e isto os torna superiores. Em Hesíodo, especificamente no poema
Os trabalhos e osdias, a virtude é resultado do esforço, do trabalho empreendido pelo indivíduo; não é mais uma questão de sangue. Nesta sociedade, qualquer homem pode ser virtuoso, contanto que se esforce para isso. Homero é a voz de um mundo aristocrático e Hesíodo fala de um mundo onde a experiência com os princípios democráticos começa a acontecer.
A democracia supõe a igualdade entre indivíduos, isto é, estão no mesmo nível quanto aos direitos políticos. A palavra, a opinião e o voto dos iguais têm o mesmo valor dentro do grupo democrático. Mas o mais importante é que uma vez que o voto iguala os homens, é necessário convencer o outro de suas idéias. Mais do que nunca, torna-se necessário desenvolver a argumentação, a lógica e a retórica, que serão não somente instrumentos da prática política, mas o instrumento do desenvolvimento intelectual (p. 01-02)
04) Em que a democracia grega era paradoxal em relação ao entendimento que hoje temos de democracia?
Resposta: A democracia grega era restrita aos cidadãos adultos, deixando de fora além dos escravos, jovens, mulheres e estrangeiros. Quando existiu, a democracia grega foi acompanhada pela escravidão. Para muitos gregos, a escravidão era uma condição natural de alguns indivíduos. Assim, alguns indivíduos nunca estariam no mesmo patamar que outros; como era o caso não só dos escravos, mas também das crianças e mulheres. (p. 02)
05) Por que os filósofos pré-socráticos são também chamados filósofos da natureza e são representantes do período de passagem do mito à filosofia?
Resposta: A preocupação destes primeiros pensadores (
physis) é cosmológica, isto é, procuravam neste mundo um princípio que explicasse sua existência e ordem, daí “filósofos da natureza”. De alguns destes pensadores, pouco ou nada restou de seus escritos, mas da leitura dos fragmentos que sobreviveram ao tempo, é possível perceber como seu pensamento filosófico está permeado de mito (religião), pois seus argumentos são apresentados como verdade revelada pelos deuses. Em conjunto com um linguajar poético, esta verdade revelada, ao mesmo tempo filosófica e religiosa, é de difícil compreensão e exige uma
hermenêuticasofisticada. Mas suas explicações não fazem mais referência aos deuses como sendo a causa única dos acontecimentos deste mundo. (p. 04)
Aula 03
01) Qual a importância dos sofistas na história da filosofia?
Resposta: Modificaram a perspectiva do pensamento que até então se centrava na questão sobre a natureza, a chamada questão cosmológica, e se deslocou para a questão antropológica, a questão sobre o homem e tudo que o envolve. Os sofistas além de serem responsáveis por essa virada na percepção do pensamento, foram responsáveis por: desenvolver a idéia de difusão do ensino (eram professores remunerados) para todos e não só para alguns; estabelecer com seu nomadismo (viajavam de cidade a cidade) uma perspectiva cultural ampla; consolidar um espírito de liberdade de pensamento; despertar o interesse pela linguagem, revalorizando a retórica e a lógica. (p. 01)
02) Qual a razão da conotação negativa que o termo “sofista”adquiriu?
Resposta: Foram mal aceitos pela sociedade ateniense, que não via com bons olhos estrangeiros que vendiam o conhecimento, apresentavam novos e diferentes costumes e que, em geral, não acreditavam na verdade e na possibilidade de se atingir um conhecimento certo. Estas posições levaram pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles a realizar uma crítica das idéias dos sofistas. Aliado a isto, está a ligação do nome aos ensinamentos de um grupo deles preocupados apenas com técnicas de convencimento político e persuasão pessoal. (p. 01-02)
03) Qual a importância da alma para o pensamento de Sócrates?
Resposta: Para Sócrates, o homem se define em função de sua alma (
psyché) e não de seu corpo; a matéria corporal atrapalha o pleno desenvolvimento da alma que é a fonte do que o homem tem de característico, a razão. Acreditando na imortalidade da alma humana, compreendia a filosofia como uma preparação para a morte, uma vez que esta propiciava o aprimoramento do espírito, em detrimento da satisfação corporal. Preparada, a alma se livra do corpo e passa a viver em um mundo livre da matéria. (p. 03-04)
04) O que caracterizava o método socrático de ensinar?
Resposta: Sócrates acreditava que todos possuíam já dentro de si a verdade eterna e única e o conhecimento não era adquirido, e sim, lembrado. Esse método socrático, denominado
maiêutica, era
dialético e irônico, pois trabalhava para promover uma
síntese a partir de posições contrárias e com o uso do gracejo; Sócrates procedia por meio de uma série de perguntas que desfaziam a ilusão do conhecimento tradicional e impensado (refutação), e procuravam construir, a partir do reconhecimento da ignorância, o conceito a ser estudado. A dialética procedia de definições menos adequadas, ou de exemplos particulares, até a definição universal. Ou seja, do raciocínio particular para o universal. Neste sentido, a sabedoria consiste em se reconhecer ignorante. (p. 04)
05) No que consiste o chamado “problema socrático”?
Resposta: Como nada escreveu, o pensamento de Sócrates deve ser percebido dentro dos escritos de seus discípulos, que sobre ele escreveram apresentando visões diversas e desenvolvendo escolas filosóficas de inspiração socrática. O principal de seus discípulos foi Platão, que escrevia diálogos nos quais Sócrates era sempre sua personagem principal. Reside nessa situação a dificuldade de diferenciar o que pensamento de Sócrates e o que é pensamento de Platão colocado na boca da personagem Sócrates. Além dos discípulos, Aristófanes, comediógrafo grego contemporâneo de Sócrates, escreveu
As nuvens, onde ridiculariza Sócrates como um sofista. (p. 04)
06) O que caracteriza a teoria das idéias de Platão?
Resposta: Platão defendia a existência de um mundo das idéias/formas. Esse mundo eterno, perfeito e imaterial é o modelo do mundo material perecível em que vivemos e que é composto por cópias imperfeitas das idéias (formas). Existe uma hierarquia no mundo perfeito da idéias e, em função disso, inúmeras relações entre elas podem ser traçadas. (p. 05)
07) Qual o reflexo da teoria das idéias para a concepção de conhecimento no pensamento de Platão?
Resposta: Platão distingue a
episteme (conhecimento) da
doxa(opinião). Na episteme se tem o conhecimento verdadeiro e confiável, em contrapartida, na doxa, o mutável e inconsistente. O objeto do conhecimento deveria ser real e seguro, o que não podia ser garantido pelas coisas que percebemos pelos sentidos, mutáveis. Assim, o objeto do conhecimento não são as coisas físicas, mas as Idéias imutáveis. Há em Platão a “reificação” dos objetos do conhecimento, isto é, são coisas, mas o são de maneira diferente das coisas materiais. Como Platão assume a posição socrática de inferioridade da matéria - que é amorfa (sem forma) e só possui determinação por que é limitada pelas formas/idéias -, a alma é o elemento eterno e espiritual aprisionado no corpo, que teve sua origem no mundo das idéias. As almas perceberam, então, as idéias em sua perfeição e, após sua prisão em um corpo cujas janelas são os sentidos, as almas conhecem por reminiscência (lembrança), pois identificam as formas das coisas com as idéias eternas específicas. Essa percepção ocorre com o uso da razão, já que os sentidos, porque são materiais, falham constantemente e nos fornecem apenas opinião (
doxa) e não a ciência (
episteme), fornecida somente pela razão. (p. 05)
08) Qual a visão de sociedade perfeita defendida por Platão, em especial em sua obra
República?
Resposta: Em sua interpretação do mundo social, Platão via com desconfiança a democracia, uma vez que foi nesse sistema de governo que Sócrates foi condenado à morte. A sociedade ideal de Platão possuía três estratos: trabalhadores, guerreiros e magistrados, cada um deles composto por indivíduos que já nasciam com um tipo de alma com a predisposição a um dos tipos de atividade. As uniões são permitidas e determinadas pelo Estado, que escolhe os cidadãos com a beleza, inteligência e destreza suficientes para procriar. As crianças são criadas e educadas em conjunto, em separado dos pais, para que sejam formadas em hábitos saudáveis. Nessa sociedade, os que se destacam em inteligência farão parte da classe dirigente, a dos chamados "reis-filósofos". (p. 06)
09) Qual a diferença central do pensamento de Aristóteles do de seu mestre Platão?
Resposta: Foi a crítica e recusa da existência do "mundo das idéias". Para Aristóteles, as idéias não se encontram em um mundo em separado; as idéias são produto da
abstração que a mente faz do que é percebido pelos sentidos. Só há este mundo material no qual vivemos, e assim, os sentidos não são de todo enganadores, pelo contrário: são a porta de entrada de qualquer conteúdo que a razão trabalha. O que ocorre é que nossa razão passa, em um processo de gradativa complexidade e abstração, daquilo que é material para aquilo que não é. Desse modo, as idéias são resultado da apreensão daquilo que há de essencial nos objetos do mundo, aquilo que os define no que são. A idéia de "cadeira" é uma abstração daquilo que faz de alguns objetos cadeiras. (p. 07)
10) No que o pensamento de Aristóteles é uma retomada do tema cosmológico iniciado pelos pré-socráticos?
Resposta: Aristóteles desenvolve a física e a metafísica iniciadas pelos pré-socráticos. Determina a análise do mundo pelo que ele tem de geral, desenvolvendo os conceitos de causa (material, formal, eficiente, final), substância, acidentes, ato, potência, etc. Dentro de sua perspectiva, o ser humano é definido como uma composição de matéria e forma, onde seu corpo é a matéria e sua alma é sua forma. A alma é princípio de vida e qualquer ser vivo possui um tipo de alma. Só o ser humano tem alma intelectiva, responsável por sua capacidade racional, além das almas vegetativa (permite a alimentação) e locomotora (permite o movimento). Em algumas partes da obra de Aristóteles, ele dá a entender a possibilidade de a alma intelectiva ter existência desvinculada do corpo, mas em outras fala da indissociabilidade entre corpo e alma. (p. 07)
11) O que caracteriza a ética aristotélica e como ela está ligada à política?
Resposta: Considerando que o ser humano se distingue dos demais animais por sua racionalidade, o fim do ser humano deve satisfazer essa característica. Todos os indivíduos desejam a felicidade, compreendida das mais diversas formas, mas apenas o desenvolvimento do intelecto e das virtudes propicia a máxima felicidade, o que não caracteriza um desprezo aos aspectos corporais, pois, para Aristóteles, as necessidades materiais têm de ser satisfeitas para atingirmos a contemplação. Só se atinge a felicidade por meio da virtude que é uma disposição para agir prudentemente entre posições extremadas. Segundo Aristóteles, a ação é imperfeita por falta ou por excesso e a virtude está no meio. Ao mesmo tempo em que o ser humano é um animal racional, também é um animal político, social; o ser humano somente consegue sobreviver em grupo e é nele que pode desenvolver sua potencialidade. A
pólis (cidade) é uma extensão natural do primeiro núcleo social, a família. Sendo assim, o indivíduo tem na política, na arena social, o ambiente propício para o desenvolvimento das virtudes. A política é vista como uma extensão da ética, pois o Estado existe para o bem-comum e é necessário à felicidade. (p. 07-08)
Aula 04
01) O que caracteriza os estóicos, os epicuristas e os céticos (escolas de filosofia do período helenístico)?
Resposta: Os
estóicos defendiam a
apatia, isto é a eliminação dos desejos como caminho da felicidade; o
s epicuristas procuravam a
ataraxia, ausência de preocupações e perturbações, e um equilíbrio dos prazeres; e os
céticos desconfiavam não somente da compreensão do que leva à felicidade, mas também duvidavam da possibilidade de se atingir a verdade. (p. 01)
02) O que no Cristianismo foi responsável pela aversão primeira causada nos pensadores gregos e romanos?
Resposta: O mundo greco-romano rejeitou o cristianismo por causa de sua mensagem universal e monoteísta, sua nova idéia de amor (caridade), sua concepção de virtude, a idéia da encarnação divina na figura de Cristo, a importância da liberdade humana como fonte da responsabilidade moral e o sentido exterior ao mundo da vida humana. (p. 02)
03) Qual a razão do nome “patrística” dado à primeira filosofia cristã?
Resposta: Os pensadores cristãos encontraram na filosofia o instrumento para a defesa racional de sua fé. Os chamados Padres Apologistas tinham como preocupação a defesa sistemática da fé cristã frente aos ataques da filosofia pagã; em razão disso a filosofia dos primeiros séculos do cristianismo foi chamada
Patrística(
pater=pai). (p. 02)
04) Como Agostinho tratou a questão do mal?
Resposta: Agostinho negou a existência do mal como uma substância. O maniqueísmo defendia que o universo é regido pelos princípios do bem e do mal, ambos com existência real. Segundo Agostinho, o mal é privação do bem. Ele deslocou o mal do campo cosmológico e da constituição do mundo, para o campo ético, o agir humano. Foi grande defensor da idéia do livre arbítrio em contraposição ao fatalismo do pensamento greco-romano. (p. 03)
05) Por qual razão a filosofia medieval posterior ao século XIII se chamou “escolástica”?
Resposta: A partir do século XIII, dois tipos de corporações existiam: a de estudantes,
universitas scholarum (Bolonha), e a de professores e alunos,
universitas magistrirum et scholarum (Paris). Era o aparecimento da universidade pela reunião das escolas. Os títulos, até hoje existentes, são o resultado de privilégios conquistados pelos cooperados, que na universidade já não se diferenciavam mais pelo nascimento, mas pela capacidade intelectual; formaram um grupo heterogêneo que se distinguia do resto da sociedade. Nas escolas e universidades era produzida a cultura de então; daí o nome da filosofia da época,
Escolástica. (p. 04)
06) Como Tomás de Aquino tratou o problema das relações entre fé e razão?
Resposta: Tomás de Aquino se preocupou em estabelecer as relações entre fé e razão. Para ele, a razão e a fé são modos distintos de se conhecer, mas não podem se contradizer. A razão é incapaz de compreender por si só os mistérios revelados, mas presta um serviço inquestionável à fé, demonstrando, ilustrando e defendendo. (p.05)
Aula 05
01) Que condições históricas, sociais e culturais diferenciaram o Período Moderno do Medievo?
Resposta: Inicia-se a constituição dos Estados nacionais europeus, o que é a superação do sistema feudal, com seu poder político desagregado. A filosofia desvincula-se da teologia, adquirindo autonomia e tratando de uma quantidade maior de temas e perspectivas. O período moderno se mostra fecundo de descobertas científicas e técnicas observacionais que aumentam o campo de visão da humanidade. As descobertas de novas terras - financiadas pela burguesia que havia custeado também o aparecimento dos Estados -ampliam a percepção cultural do homem moderno. A modificação do sistema social estabelece cada vez mais as relações econômicas como as principais dentro do grupo social; as relações pessoais são relegadas a um plano secundário. As relações com Deus, intermediadas pela Igreja, passam a ser contestadas. (p. 01)
02) Por que chama-se “dúvida metódica” a tentativa de Descartes refundar a filosofia em novos termos?
Resposta: Descartes via na matemática o modelo que deveria ser seguido pela filosofia. Os avanços que a astronomia e a física obtiveram com a utilização da matemática instaram Descartes a estabelecer uma filosofia baseada na razão e em princípios incontestáveis. Em sua procura pelo ponto de partida que garantiria o conhecimento correto, o pensador francês começa um processo de dúvida que tinha como objetivo descartar qualquer coisa que pudesse ser objetável; é o que se convencionou chamar "dúvida metódica", pois era apenas um caminho para a certeza, não uma desconfiança quanto às possibilidades do conhecimento humano. (p. 03)
03) Qual o ponto de partida (a certeza absoluta) da filosofia cartesiana?
Resposta: A certeza absoluta a que Descartes chega é a constatação da própria existência como ser pensante (
res cogitans), o que traduziu em sua frase mais famosa:
se duvido, é porque penso, ese penso, existo (
cogito ergo sum). A certeza da existência da alma possibilitará a reconstrução do conhecimento humano. (p. 03)
04) Por que a filosofia de Descartes é dita dualista?
Resposta: Em sua filosofia, Descartes distingue duas substâncias no mundo: a
res cogitans, "a coisa pensante" (alma), e a
res extensa, "a coisa extensa" (matéria). O mundo, que é matéria, se rege por leis mecanicistas, como as engrenagens de um relógio. A alma não é regida por essas leis e, no pensamento de Descartes, as relações entre corpo e alma são apenas ocasionais, pois não se influenciam mutuamente. (p. 02)
05) Qual a relação, no pensamento de Hobbes, entre sua concepção antropológica (de ser humano) e sua filosofia política?
Resposta: Hobbes defende que apenas existe a substância material, ou seja, aquilo que pode ser percebido pela mente humana através dos sentidos. Esse ser material, que é o homem, tem como traço natural o egoísmo. Seu estado natural é o da "guerra de todos contra todos", mas sua racionalidade faz ver que a existência da sociedade lhe propiciaria uma vida mais longa e segura. Entrega, após um contrato natural tácito, seus direitos naturais nas mãos de um poder soberano, que passa a exercê-los de maneira despótica para garantir a existência da sociedade e a preservação de seus membros. (p. 04)
06) Por que a idéia de democracia representativa está ligada ao pensamento de Locke?
Resposta: Locke é um contratualista, mas não acredita que em estado natural a situação seja a de guerra de todos contra todos. Locke argumenta que pela própria condição racional, as pessoas decidem por estabelecer um pacto implícito para a constituição da sociedade. Ao ceder parte de seus direitos para o governo, essa cessão não é incondicional; se o governante não prestar contas de suas obrigações para com aqueles de onde emana seu poder, então, ele perde a representatividade, pode ser destituído e substituído. (p. 05)
07) O que caracteriza Hume como um filósofo empirista?
Resposta: Hume, como os demais empiristas, defendia que a única fonte de idéias em nossa mente eram os sentidos. Aquelas percepções mais próximas no tempo e no espaço formam as impressões, que possuem mais força e vivacidade. Quando essas impressões não possuem mais as percepções para lhes garantir a força, se tornam idéias guardadas na memória, mais fracas e tênues. (p. 06)
08) O que é a alma/mente para Hume?
Resposta: A mente humana liga idéias vindas da percepção e cria seres imaginários. A alma humana é apenas o conjunto dessas impressões e idéias e, uma vez que cessa a atividade dos sentidos, cessa a alma. (p. 06)
09) Que crítica Hume faz à ideia tradicional de causalidade?
Resposta: Na opinião de Hume, nossa mente tem por hábito criar relações entre fenômenos observados, isto é, estabelece uma relação que não está no fato em si, mas apenas na nossa disposição em vêlos assim. A relação de causalidade - básica para a ciência - é uma construção mental, não a apreensão da realidade. Todo conhecimento é
conjetural, uma interpretação que a mente humana realiza sobre os fenômenos individuais que observa. (p. 06)
10) O que é o conhecimento para Kant?
Resposta: Segundo Kant, a intuição sensível nos fornece os fenômenos indeterminados, o que por si mesmo não constitui conhecimento, dado serem percepções específicas sem traços de universalidade e necessidade. O conhecimento somente se constitui pela organização dos dados da intuição sensível por um elemento
apriori que lhes dá forma e ordem. Esta estrutura racional ordenadora é uma lógica do entendimento e é vazia em si mesma, sem conteúdo. Sua função é objetivar o dado sensorial fornecendo a síntese (união) entre o particular sensorial e a universalidade da estrutura
a priorique permite a própria constituição do conhecimento. Tanto espaço e tempo – formas a priori da intuição sensível que ordenam os fenômenos percebidos – quanto as categorias – conceitos puros que permitem a ligação dos fenômenos – constituem, ao mesmo tempo, o modo próprio daquele que conhece e o objeto conhecido. (p. 07)
11) Que posição Kant toma em relação à existência de Deus?
Resposta: Deus não pode ser conhecido pela razão, pois está além de seus limites. Entretanto, Kant argumenta que a razão, quando se refere ao agir, deve pressupor a existência da liberdade, da alma e de Deus, sob pena de não possuir critérios para determinar o comportamento, a responsabilidade e a punição. (p. 08)
Aula 06
01) Que críticas Hegel fazia ao pensamento de Kant?
Resposta: Hegel criticava a idéia de Kant segundo a qual temos acesso ao fenômeno, mas não temos acesso ao
númeno, a coisa em si. Para Hegel, não podemos nem mesmo afirmar a existência da coisa em si; nosso conhecimento se resume às idéias em nossa mente, em nossa consciência. Na filosofia de Hegel tudo que é racional é real e tudo que é real é racional, isto é, não há separação, como em Kant, das esferas teórica e prática. (p. 02)
02) O que é a dialética hegeliana?
Resposta: Em Hegel, há uma identidade entre o pensamento e a realidade; as regras do pensar são também as regras do mundo. Essas regras são regidas pelo princípio de contradição, que afirma que nada é idêntico a si mesmo e tudo se subordina à afirmação e à negação; é a dialética hegeliana que se mostra como princípio de ordenação do mundo material, da história da humanidade e, principalmente, como processo pelo qual o Espírito (Deus) se desenvolve e se mostra. Assim, Hegel vê sua época - em todos os seus aspectos econômicos, políticos, religiosos, artísticos, científicos e filosóficos - como o momento de culminância do processo dialético de desenvolvimento do Espírito; dessa posição, Hegel advogava o "fim da história", no sentido de que a partir de então, nada mais haveria de relevante a ser revelado. (p. 02-03)
03) Por que se afirma como existencialista o pensamento de Kierkegaard?
Resposta: O que é primário para todo ser é sua existência e é nela que o indivíduo de define. A existência, Kierkegaard a define como a subjetividade derivada da escolha. Assim, no pensamento do dinamarquês é correto se referir aos existentes com suas existências deliberativas, e não à “existência” em si mesma. Não há essência do ser humano; ela é construção existencial de cada indivíduo, que faz a si mesmo durante sua vida. Percebendo o quanto a posição única da existência do indivíduo causa angústia e desespero, Kierkegaard indicava como solução o salto no absurdo da fé, que possui princípios incompreensíveis à razão. (p. 03)
04) Qual a crítica de Nietzsche à visão da religião (em especial, o cristianismo) e o que ele advoga em seu lugar?
Resposta: Os homens fracos e incapazes se defendem frente àqueles que são superiores por meio de duas armas poderosas: a moral e a religião. Assim como todas as grandes religiões, o Cristianismo prega uma moral de cordeiros onde os medíocres - a maioria das pessoas - oprimem aos superiores; os pobres, fracos e humildes merecem tudo e aos fortes, orgulhosos e aristocráticos é reservada a condenação. Nietzsche prega o advento do
superhomem, aquele que é senhor de sua própria vontade, criador de sua própria moral. Uma vez que "Deus está morto", somente aquele que é superior aos demais tem a capacidade de assumir sua vontade, até então aprisionada. Esse homem está "além do bem e do mal", porque não é mais a sociedade que lhe impõe o certo e o errado, mas é ele que cria as virtudes necessárias a sua vida. (p. 03-04)
05) O que caracteriza o positivismo de Comte?
Resposta: Para Comte somente a observação é fonte de conhecimento científico e todos os demais conhecimentos não passam de ilusão, são “metafísica”. O termo "metafísica" adquire uma conotação pejorativa dentro do positivismo, fruto da crítica ao conhecimento humano nascida com a modernidade. O positivismo defendia a idéia de progresso contínuo e irreversível da humanidade (as civilizações passam por três fases de desenvolvimento), cuja face mais visível era o desenvolvimento da ciência e da técnica. Assim como a física tinha a função de explicar o mundo físico, uma disciplina própria deveria cuidar do mundo social, que deveria ser explicado por leis similares às das ciências naturais. Era a
físicasocial, dividida em
estática social e
dinâmica social. A primeira tratava da
ordem social e a outra do
progresso social. (p. 04)
06) Qual a relação que o pensamento de Marx mantém com o pensamento de Hegel?
Resposta: Ao mesmo tempo que nega o hegelianismo - afirmando que não há o Espírito, somente a matéria -, mantém do pensamento de Hegel o esquema dialético de desenvolvimento da matéria e da humanidade. A luta de classes, na filosofia de Marx, desempenha o papel visível de contraposição dos contrários que resulta em uma situação síntese que conterá dentro de si mesma sua contradição. A filosofia dentro da perspectiva marxista possui a função de incitar a mudança; não basta entender o mundo, é necessário modificá-lo. (p. 05)
07) Qual a mecânica de transformação da realidade material e social defendida por Marx?
Resposta: Em consonância com o positivismo, Marx assume a crença no progresso inevitável da humanidade. As leis dialéticas são leis da matéria e por isso mesmo, determinantes de uma mudança contínua. A situação do modo de produção capitalista produz as condições para superação desse mesmo sistema, pois o capitalista maximiza os lucros através da exploração do trabalho do proletariado, mas isso tem um limite na capacidade física do trabalhador. O capitalismo aumenta a produção e os lucros maximizando a técnica, que exige cada vez menos trabalho assalariado, aumentando a produtividade. Ao mesmo tempo, desemprega uma massa de trabalhadores que não terá renda para consumir, o que leva a crises sucessivas de excesso de produção. Nesse momento, o proletariado assume o poder, preparando o caminho para a sociedade comunista, onde cada um receberia conforme suas necessidades e contribuiria conforme suas capacidades. (p. 06)
08) O que caracteriza o pragmatismo?
Resposta: O princípio básico é de que a verdade se define pelo critério da ação bem sucedida; o que dá resultados determina a aceitação como verdadeiro. O pragmatismo afirma de maneira clara que o método pragmático consiste no estudo de várias doutrinas do ponto de vista de suas conseqüências práticas e seus resultados. (p. 06)
09) O que é o “critério de demarcação” defendido pelos neopositivistas (positivismo lógico)?
Resposta: Esse critério estabelece que somente proposições (sentenças) que possam ser reduzidas ao que é observacional possuem significado. Se uma proposição não se verifica por observação, ela é destituída de sentido; sentenças não verificáveis são sentenças metafísicas. Segundo os positivistas lógicos, somente são consideradas ciências aquelas áreas de conhecimento, cujas sentenças são verificáveis. (p. 08)
10) O que é a filosofia para os neopositivistas?
Resposta: Os positivistas lógicos chamavam a atenção para o fato de que a linguagem comum não seria adequada para o conhecimento científico; defendiam, então, que somente uma linguagem artificial lógica e simbólica poderia tratar do conhecimento. O trabalho da filosofia estaria resumido à análise da linguagem das ciências por meio da lógica simbólica. Era essa linguagem que propiciaria a unificação das ciências, um ideal dos neopositivistas. (p. 08)
11) O que é o falsificacionismo defendido por Karl Popper contra o critério de demarcação dos neopositivistas?
Resposta: Popper defendeu um novo critério de demarcação, que segundo ele, não estaria na verificação, mas no caráter falsificável de uma teoria. Somente uma teoria que se coloca à prova - dizendo exatamente o que admite ou não e como isso pode ser testado - é tida como científica. Teorias que nunca podem ser falsificadas são teorias metafísicas. Mas, ao contrário dos positivistas lógicos, Popper não dizia que teorias metafísicas não possuíam sentido; eram plenas de sentido e muitas vezes fonte de teorias científicas. (p. 09)
12) O que é a filosofia para Wittgenstein em sua segunda fase?
Resposta: Wittgenstein defende a idéia de que o trabalho da filosofia é o de análise da linguagem comum; somos assombrados por fantasmas que nossa linguagem cria e a filosofia deve exorcizá-los, isto é, a filosofia é
terapia lingüística que revela os
significados. Nós estamos inseridos em diversos
jogos de linguagem e somente por meio do
contexto podemos apreender os significados. (p. 09)
Aula 07
01) O que Aristóteles entendia por “filosofia primeira”?
Resposta: A "filosofia primeira", ou metafísica, seria a área da filosofia que abordaria as causas primeiras de toda a existência, o ser em si mesmo, que Aristóteles identificava com Deus. Em sua perspectiva, a metafísica equivalia a uma
teodiceia, uma ciência de Deus, a primeira causa incausada de toda existência. (p. 02)
02) Que tipos de problemas são próprios da metafísica?
Resposta: De maneira introdutória pode-se dizer que a metafísica trata dos problemas do ser e da existência. O que existe? O que define a existência específica de algo e do todo? Que tipo de existência pode-se advogar da essência das coisas? Existem causas e quais? O que é necessário e o que é contingente? Todas estas são questões metafísicas. (p. 02)
03) Como a morte está relacionada ao problema metafísico do sentido da vida?
Resposta: A razão da existência pessoal e da existência é um problema metafísico e com reflexos imediatos para o nosso viver cotidiano, como por exemplo, os objetivos que você traça em sua vida e as ações que realiza para alcançá-los. Em especial este problema se coloca quando o homem se defronta com condição mortal. A morte apressa as questões acerca do significado da vida, além da definição de que é algo bom ou ruim. Procurar sentido no que fazemos pode estar nos desejos pessoais, nas preocupações sociais, ou em algo fora desse mundo. Alguns filósofos argumentam que não há sentido na existência pessoal, que se daria pelo acaso e demandaria a produção livre e pessoal de um significado, sob pena de se admitir até mesmo o suicídio como resposta à falta de significado da existência. (p. 03)
04) O que dizem aqueles que advogam a subjetividade do sentido da vida?
Resposta: Mesmo que se produza significado, este é apenas subjetivo, pois o universo demonstra uma indiferença constante à existência e ao que o ser humano produz, já que tudo será consumido pelo tempo e desaparecerá para sempre, mesmo as lembranças que tenham de nós e de nossas ações. Talvez o ser humano não devesse se preocupar tanto com sua existência como um ser único, achando que ele é especial. (p. 03)
05) O que é a epistemologia e do que trata?
Resposta: A epistemologia, ou teoria do conhecimento, trata de todas as questões acerca do conhecimento humano: como procede; de onde parte; seus limites; seus tipos. Ao procurar conhecimento, pretende-se encontrar crenças verdadeiras justificadas. Dentro desta definição encontram-se dois conceitos que devem ser clarificados: verdade e justificação. (p. 04)
06) Sobre o problema epistemológico da verdade (o que é?), quais são as teorias expostas no texto?
Resposta: Existem diversas "teorias da verdade", em outras palavras, teorias que definem o que é a verdade. Dentre elas temos a mais comum, que podemos chamar de "teoria da correspondência" ou "teoria especular". O termo "especular" se refere a espelho, pois supõe que os conhecimentos que cada pessoa possui se espelham a realidade ou correspondem ao mundo como ele é. Assim, verdadeira é a crença que reproduz a estrutura do mundo e falsa é a crença que não reflete esta estrutura. Uma outra teoria é a
pragmatista. Segundo esta teoria, a verdade é uma característica provisória das crenças, ou seja, enquanto estas produzem o resultado esperado em termos de finalidades práticas, elas sustentam o status de verdadeiras. Esta posição está freqüentemente ligada ao
instrumentalismo em ciência, que percebe as teorias científicas como instrumentos de manipulação da realidade que podem ser substituídos. (p. 04)
07) Quais são as exigências epistemológicas de uma afirmação justificada?
Resposta: Quanto à justificação, sua definição está ligada ao tipo de conhecimento que se pretende advogar, o procedimento necessário para atingi-lo e as evidências relevantes. A justificativa deverá possuir não só uma argumentação logicamente correta, mas também apresentar fatos plausíveis e não contraditórios em defesa do que se pretende afirmar como verdade. A plausibilidade dos fatos aventados e das crenças deve obedecer também ao critério de coerência. A exigência de coerência é a necessidade de que o conjunto de nossas crenças não inclua crenças contraditórias. (p .05)
08) Por quais razões a filosofia da ciência se tornou área importante da epistemologia (teoria do conhecimento)?
Resposta: O conhecimento científico, em especial o das ciências naturais, se desenvolveu enormemente a partir do início da modernidade com a Revolução Científica e a Revolução Industrial, tributária da primeira. A ciência se tornou, durante o século XIX e ainda hoje para alguns, o conhecimento privilegiado. A ciência tem uma enorme importância na sociedade de hoje, o que pode ser apreciado ao notar o grande interesse e dependência que se possui das questões científicas e tecnológicas. Aos filósofos interessam indagar o que caracteriza o conhecimento científico, seu método ou métodos, suas teorias e a realidade da qual pretende falar. (p. 06)
09) O que o ceticismo advoga?
Resposta: O ceticismo chama atenção para o fato de que constantemente o ser humano erra: nosso raciocínio se mostra errado, somos enganados pelos sentidos, confundimos sonho e realidade, e nossas teorias estão permanentemente se mostrando falhas. Em suma, não podemos dar crédito às nossas percepções e crenças, pois não possuímos garantia alguma da correção delas; no máximo podemos afirmar que temos opiniões acerca do mundo, nunca conhecimento de como ele realmente é. (p. 07)
10) O que é a ética e quais os problemas de que trata?
Resposta: As questões éticas são relativas ao agir humano. O que é certo fazer? O que não devemos fazer? Qual ou quais são as fontes da moralidade? Há alguma relação entre o certo e o útil? A felicidade pessoal é a justificativa final das ações humanas? Além das questões éticas de cunho geral referidas acima, existem as questões mais específicas, relativas à época em que se vive, em especial aquelas que dizem respeito à vida. (p. 07)
11) O que são o relativismo e o subjetivismo moral?
Resposta: O relativismo moral. A percepção de que existem variadas concepções morais que variam com o tempo, o lugar e os grupos é a base do relativismo moral. Ao se prestar atenção à história da humanidade percebe-se como os diferentes povos e civilizações possuíam concepções contraditórias acerca do certo e do errado; quando se observa as sociedades hoje existentes, pode-se notar que a percepção do bem e do mal também varia muito. A conclusão destas observações para o relativista moral é a de que a norma moral depende da sociedade em que se vive; o que é certo é aquele tipo de ação que a sociedade procura incentivar ou toma como normal, e o que é errado é a ação que aquela sociedade tenta coibir. Deste modo, para o relativista moral não podemos condenar moralmente as ações de determinado povo, pois este está simplesmente fazendo aquilo que pensa estar certo. Qualquer tipo de repreensão moral seria derivada de uma atitude etnocêntrica. A posição chamada "subjetivismo moral" é uma derivação do relativismo, pois defende que o certo e o errado são relativos ao sujeito, isto é, é aquilo que o indivíduo toma como o melhor e o pior para ele. (p. 08)
12) No que as mais variadas críticas ao relativismo moral coincidem?
Resposta: Há uma coincidência nas diversas respostas dadas ao relativismo moral, mesmo quando estas respostas não derivam teorias éticas comuns.
Platão,
Aristóteles, os filósofos cristãos da Idade Média, os racionalistas modernos, os empiristas, os utilitaristas,
Kant e diversos outros pensadores não coincidiram em suas propostas de uma teoria ética definidora do certo e do errado no agir humano, mas todos eles coincidiram em suas críticas ao relativismo e na possibilidade de chegarmos racionalmente ao que usualmente chamamos de "regra áurea", uma norma moral universal. Nisto estão ao lado das maiores tradições religiosas da história da humanidade. As críticas ao relativismo e ao subjetivismo estão centradas na idéia da impossibilidade de crítica moral, de educação moral e reforma social ao admitirmos a posição relativista. Segundo os críticos do relativismo, basta que você se pergunte quais seriam as razões para condenar um ato em um grupo social diferente do seu ou em um subgrupo social da sociedade em que se está inserido. (p. 0809)
13) Qual o problema com o subjetivismo moral?
Resposta: Imagine você se o certo e o errado fossem os objetos do desejo dos indivíduos. A responsabilidade moral, assim como a imputação de culpa, não poderiam ocorrer dentro da sociedade. Novamente, como pais e educadores agem? Dizem a seus filhos e alunos "façam o que desejam"? A idéia de educação moral está justamente baseada no controle dos desejos subjetivos. (p. 09)
14) Qual a tentativa kantiana para controlar o subjetivismo moral?
Resposta: Há uma tentativa, com base no pensamento de
Kant, de controlar o subjetivismo. Esta teoria faz referência ao conceito de "observador ideal". Um dos principais pensadores contemporâneos que advoga esta posição teórica foi o filósofo americano John Rawls em seu livro "Uma teoria da Justiça". Ao decidir sobre a ação, o indivíduo deve se colocar na posição de um observador ideal que procuraria ter o máximo conhecimento possível sobre a ação a ser realizada – inclusive as possíveis conseqüências – e procurar agir com total imparcialidade nas ações, isto é, levando os interesses de todas as pessoas – incluso ele próprio – igualmente em consideração. Uma das críticas a esta posição está ligada à exigência de total imparcialidade. Imagine. Você levaria igualmente em consideração os interesses de seus familiares e de um desconhecido? (p. 09)
15) Como a questão do livre-arbítrio está ligada à ética, em especial, em sua relação com a noção de responsabilidade?
Resposta: Toda nossa ação cotidiana e tomada em sociedade está baseada na crença que se possui no livre-arbítrio. Ao chamar atenção para ações humanas que estariam certas ou erradas; louva-se ou condena-se as próprias as ações e a dos outros; recompensa-se ou pune os atos realizados. A liberdade humana deve ter como característica básica a autonomia na escolha. Em algum momento nossa capacidade de decisão ou nossa vontade devem poder escolher sem nenhum constrangimento, sem nada que as determine.
Diversos autores defenderam o determinismo como a posição teórica mais apropriada ao nosso conhecimento sobre o mundo e sobre o ser humano. Como o próprio nome já indica, o determinismo defende que todas as ações no mundo estão determinadas por causas anteriores a elas, incluso as ações humanas. Quando o ser humano age, estaria sujeito às habilidades biológicas inatas, aos valores instruídos pela família, aos preceitos e noções sociais em nós inseridos pelo grupo, às condições econômicas impostas pelos modos de produção e até mesmo aos inúmeros e desconhecidos fatores inconscientes que possuímos. (p. 10)
16) Que paradoxo o determinismo traz à ética, e que resposta ele dá a este paradoxo?
Resposta: Se o ser humano é livre, ao condenar alguém por fazer algo errado, o que se esta fazendo é dizer que se você estivesse em sua posição não faria o mesmo. Se o indivíduo é livre para agir, então tem responsabilidade por suas ações. Mas se o indivíduo não é livre, como defende o determinismo, então ele não possui responsabilidade moral sobre o que faz. Como poderia justificar uma punição por seus atos? Como poderia premiar e enaltecer suas ações, já que ele simplesmente fez o que fez determinado por causas anteriores? Este seria um resultado socialmente perverso do determinismo e alguns diriam que é motivo racional suficiente para se recusar o determinismo e admitir o livre-arbítrio. A resposta de alguns deterministas torna o problema mais complexo e perturbador. Segundo eles pode-se continuar premiando e punindo as pessoas, não porque elas tenham algum tipo de responsabilidade moral pelo que fazem, mas porque o prêmio e a punição servirão como mais um fator causal para que elas e as outras que vêem o fato o realizem ou não o cometam de novo. Em outras palavras, punir e louvar serve para condicionar as pessoas a determinados comportamentos. (p. 11)
17) Qual a importância do conceito “virtude” para algumas concepções éticas, como a de Aristóteles?
Resposta: O conceito de "virtude" será básico para inúmeras teorias éticas ao longo do tempo e por isso mesmo variará dentro de cada uma. A principal teoria ética das virtudes é a de Aristóteles , que via a ética como uma ciência prática. Como ciência prática ela não possui a precisão do conhecimento que se obtêm da natureza, mas é um indicativo e uma disciplina norteadora da ação humana. Para
Aristóteles, a virtude é uma ação entre ações extremadas pela falta e pelo exagero; a virtude é uma ação entre dois extremos, como por exemplo, a coragem é a ação virtuosa entre aquela que erra pela falta – a covardia, que tudo receia – e a que erra pelo excesso – a temeridade, que nada teme. Para cada indivíduo envolvido, em cada ação específica e a cada objetivo almejado, a ação virtuosa variará. A teoria de
Aristóteles influenciou a maior parte das teorias éticas cristãs a partir da apropriação da noção de virtude, que difere na abordagem grega e na abordagem cristã. Atualmente, o filósofo escocês Alasdair MacIntyre é o principal responsável pelo desenvolvimento de uma teoria ética das virtudes. (p. 11-12)
18) Qual a importância da noção de “dever” para a ética de Kant?
Resposta: Kant é responsável por uma das mais influentes elaborações éticas da filosofia. A pretensão kantiana foi a de estabelecer uma regra moral de aplicação universal que permitiria a determinação da correção de qualquer ação humana. Esta regra se configurou no chamado "imperativo categórico": age de tal maneira que seja seu desejo que todos ajam da mesma forma. Aplicada tal regra, o agente se defrontará com uma ação que é boa em si mesma, despreocupada de suas conseqüências. Independente dos resultados da ação, o que é categórico é bom e o é sem relação aos desejos pessoais e aos resultados efetivos para aquele que age e para aqueles relacionados à ação. A ética de
Kant é extremamente rígida e vinculada à noção do "dever"; se você faz o que é certo, mas o faz almejando algo mais além de fazer o que é certo, então a ação foi viciada. (p. 12)
Aula 08
01) Do que trata a filosofia política e quais as contraposições clássicas dentro da disciplina?
Resposta: A filosofia política é o questionamento filosófico acerca da estrutura política, dos sistemas de governo e da justiça. Os filósofos sempre se interessaram pela justificação das formas de governo, pela definição do que é a justiça e sua distribuição, pelas relações entre a política e a ética, pelos processos evolutivos e revolucionários dentro das estruturas políticas, pela liberdade e opressão políticas.
Há dois tipos de contraposições teóricas clássicas na filosofia política que são exemplares na compreensão desta disciplina filosófica. A primeira diz respeito à origem da sociedade e está dividida entre naturalistas e contratualistas. A segunda fala das relações entre ética e política que apresenta aqueles que defendem uma regulação ética da política e aqueles que defendem uma regulação exclusivamente política. (p. 01)
02) O que defendem os naturalistas?
Resposta: Os naturalistas são pensadores que afirmam o aspecto natural e evolutivo do aparecimento e desenvolvimento das sociedades. O pensador naturalista por excelência foi Aristóteles que definia o ser humano como um animal político. Para este filósofo grego, o Estado é apenas o ápice do desenvolvimento social e gregário da natureza humana. O ser humano não é um ser solitário; pelo contrário, é um animal político, que vive, se define e aprimora somente dentro da sociedade. O núcleo social básico é a família, e dela vêm as demais organizações sociais, a tribo, a aldeia e o Estado, que para o grego antigo era a cidade. Esta progressão é natural e evolutiva, pois o homem não é uma besta que vive solitária, nem um deus que não precisa dos outros para existir. (p. 01)
03) O que defendem os contratualistas?
Resposta: Os contratualistas afirmam que qualquer sociedade surge em função de um pacto implícito entre os indivíduos que a comporão. As pessoas possuiriam diversos direitos que são naturais e por meio de uma decisão racional decidem por viver em grupo, abdicando de todos ou de alguns direitos naturais. A noção de "contrato", implícita no contratualismo, é abordada para mostrar o aspecto de tomada racional de decisão ao se formar o grupo social. A mesma noção serve para que percebamos que existem obrigações e direitos inerentes à participação de uma pessoa em uma sociedade. Como nos demais contratos, para que a associação continue existindo é necessário que o pacto social tácito que determina a coexistência dentro do grupo seja respeitado. (p. 02)
04) Por que Aristóteles se mostra defensor das relações intrínsecas entre ética e política?
Resposta: Para Aristóteles, a
pólis (
cidade em grego) é não só a sociedade formada, mas a própria estrutura organizacional de poder constituído, qualquer que seja.
Aristóteles analisou as diversas estruturas de poder existentes em sua época e percebeu a grande variedade de formas de organização. Estas formas são boas ou más conforme as características do povo que as adota e a justiça que tragam para esse povo. Para
Aristóteles, a política é a continuação da ética. Um ser humano somente se define em sociedade, pois é nela que deve se esforçar por adquirir hábitos virtuosos. A virtude não é inata, deve ser fruto do esforço individual em relação ao grupo. A virtude e a justiça existem apenas em sociedade, e a compreensão de
Aristóteles a respeito da política inclui qualquer relação social. Como a
pólis é o máximo desenvolvimento da natureza social do homem, seria no aplicar-se às coisas do Estado o topo do progresso humano. Não há aqui a idéia ingênua de que aqueles que participam da política são pessoas virtuosas, mas há a normatização ética dos procedimentos políticos. Assim, existe em
Aristóteles a recomendação de certas formas de governo que promovem a virtude e a justiça, e a condenação daquelas que não o fazem. (p. 02)
05) Por que Maquiavel é o principal defensor da separação entre ética e política?
Resposta: Para
Maquiavel, a política possui regras próprias e o agir político deve ser definido pelos seus fins inerentes, que para ele são a manutenção do poder e da ordem na sociedade.
Maquiavelestabelece uma diferença entre o que hoje chamamos "razão de Estado" e as razões pessoais do governante. O fim da ação política não deve se confundir com os desejos do governante; aquilo que individualmente para uma pessoa seria o correto fazer, não é necessariamente certo para um governante. Se necessário aos fins específicos do Estado, o governante deve agir na sua dependência, mesmo que pessoalmente em sua vida particular não o fizesse. O lema "os fins justificam os meios" é a expressão da desvinculação entre os preceitos éticos pessoais e os preceitos políticos públicos. (p. 03)
06) Qual a posição de John Rawls sobre a justiça distributiva e sua relação com o papel do Estado?
Resposta: Rawls defendeu – em uma sofisticada teoria de bases kantianas – a importância do Estado como o elaborador e realizador de mecanismos sociais e econômicos que produzam justiça social. Caberia ao Estado diminuir as distâncias das diferenças entre as condições materiais dos indivíduos que compõem uma sociedade. Defendendo a idéia de que somente o aparato estatal deveria e poderia tratar os interesses individuais de todos de igual maneira,
Rawls afirmava a necessidade da máxima diminuição das desigualdades não-naturais – aquelas que não são derivadas das aptidões biológicas de nascimento – por meio do deslocamento de bens e serviços daqueles que mais têm para os que menos têm. Com o dinheiro advindo de impostos e prestação de serviços estatais de saúde e educação, a sociedade seria mais justa. (p. 03)
07) Em que Robert Nozick se opunha à teoria de Rawls?
Resposta: Nozick era frontalmente contra qualquer tipo de ação que interferisse nos direitos naturais de uma pessoa. Qualquer intervenção estatal seria uma ação espúria e para ele o Estado seria apenas uma agência de segurança que teria como responsabilidade aplicar a força para a manutenção dos contratos e proteger os cidadãos de violência gratuita. A idéia de
Nozick – de inspiração anárquica – seria a de que ninguém pode interferir em direitos naturais ou adquiridos por meio de contratos legalmente estabelecidos. A ação dos indivíduos dentro da sociedade deve ser livre de qualquer constrangimento, conquanto não procure atingir direitos pessoais. O pensamento de
Nozick se liga à percepção de que apenas um Estado mínimo se justifica e que nenhuma justiça distributiva pode ser realizada, pois não há maneira de que algum mecanismo distributivo possa ser defendido. (p. 03)
08) O que é a estética e quais seu problemas?
Resposta: A estética é a área da filosofia que trata da beleza e da arte. A apreciação estética é parte do nosso cotidiano. Pode-se dizer que certas composições musicais são belas; aprecia-se o quão bonita é uma paisagem; fala-se sobre a beleza de algumas pessoas; encanta-se com os quadros e as esculturas como belas. A beleza é uma referência normal em nossas percepções e em nosso discurso diários. Mas o que há de comum em uma paisagem, uma música, uma pessoa e um quadro quando dizem que todos são belos? (p. 04)
09) Quais as diferenças de julgamento da arte como imitação feitas por Platão e Aristóteles?
Resposta: A mais usual perspectiva estética é a da imitação. Em
Platão, todo o mundo físico é imitação do mundo das idéias, o que percebemos através da nossa capacidade racional que ultrapassa o sensorial e apreende a idéia imaterial e eterna do belo, a beleza em si mesma. Essa percepção levou
Platão a condenar todo e qualquer tipo de arte imitativa; já que mundo físico é cópia do mundo das idéias, então a arte imitativa copia o que já é imperfeito, afastando mais ainda o homem da contemplação pura da beleza e do bem.
A perspectiva de
Aristóteles se diferenciou da de
Platão, pois para ele a arte é por definição arte imitativa. Quanto mais perfeita a imitação realizada, mais a arte permite o aprimoramento humano, pois possibilita a percepção e a vivência de experiências múltiplas. A arte é necessária por elevar – por meio de sua imitação da realidade
– o homem à condição de vivenciador de papéis múltiplos. (p. 05)
10) Qual a principal crítica que se faz à perspectiva da arte como imitação?
Resposta: A perspectiva imitativa padece da critica de que muito do que é majoritariamente reconhecido como arte não ser imitação ou representação de nada. O que uma sinfonia representa ou copia? A arte abstrata se constitui na negação da representação do mundo e diversas de suas obras são usualmente tidas como belas. (p. 05)
11) Qual a proposta da teoria emotivista da arte e seus problemas?
Resposta: Alguns outros teóricos se concentraram na emoção, tanto a que o artista pretenderia expressar, quanto aquela que ocorre em quem aprecia. Mas os problemas logo aparecem. Como posso ter certeza da apreensão correta da emoção do artista? Não poderia dizer que algo é belo ou arte, mesmo que não tenha mínima idéia da emoção do artista ao realizá-la? Um artista deve necessariamente estar imbuído de alguma emoção específica ao realizar seu trabalho? Se não existe autor para expressar emoções em paisagens naturais, com a exceção do tempo e das condições climáticas e geológicas, então não poderíamos dizer que aquela é bela? Quanto à emoção produzida naquele que percebe a situação não é menos problemática. Se a emoção estética produzida por algo é diferente em duas pessoas é porque aquilo é falho? Não posso admitir que algo seja arte sem que aquilo produza em mim algum tipo de emoção? (p. 05)
12) O que propõe a teoria sociológica e histórica da arte?
Resposta: Um outro tipo de posição em estética advoga uma posição sociológica e histórica. Esta concepção afirma que a beleza e a arte são definidas em função das condições psicológicas e sociais existentes em determinados períodos e locais. Arte é aquilo que foi estabelecido como arte pelos manuais de história, pelos artistas, pelos
marchands e pelos críticos. O mesmo ocorreria com a concepção de beleza. Dentro desta perspectiva há uma coincidência com o relativismo moral em ética e com o ceticismo em epistemologia. (p. 06)
13) O que dizem certos evolucionistas sobre a arte e a percepção da beleza?
Resposta: Existem teóricos mais recentes que procuram a objetividade da beleza nas noções de "harmonia" e "simetria". A abordagem é biológica e evolucionista. Para os representantes dessa análise de psicologia evolucionista existe uma constância na percepção de padrões harmônicos e simétricos como relacionados com a beleza em todas as diferentes culturas analisadas. Este padrão de identificação do que é belo estaria ligado ao fato de evolutivamente as espécies reconhecerem a relação entre saúde e organismos de corpos simétricos. Esta hipótese explicativa é fruto de uma aliança nem sempre aceita entre estética e biologia evolucionista. (p. 06)